Olá...
Hoje quero contar à vocês um pouco de como algumas vezes durante a internação o dependente químico cria muitas esperanças, projeta muitas coisas na cabeça, mas nem sempre as coisas acontecem do jeito que ele quer.... À propósito, quando me refiro a dependente químico, estou me referindo a mim mesmo.
Mesmo com todas as conquistas que descrevi ontem para vocês, as situações não ocorrem como nós queremos que seja, tudo tem seu tempo.
Quando se está internado, é comum criar muitas expectativas sobre as coisas, eu mesmo imaginava que por estar me tratando, por ter pedido ajuda, automaticamente minha família iria passar uma borracha e apagar todo aquele passado de mentiras, manipulações, acreditava que minha mãe iria fingir que eu não havia roubado seu dinheiro, enfim, que iria receber somente elogios e ganhar até uma festa quando voltasse para casa.
Adicto quando é contrariado faz drama, chantagem emocional e quando não dá certo, ele briga xinga e se mesmo assim não conseguir o que quer, aí ele fica até violento (graças a Deus que não cheguei a esse estágio, ainda, porque se voltar ao uso, fatalmente é o que irá acontecer).
Minhas primeiras frustrações vieram quando durante as visitas na Clínica eu perguntava aos meus familiares sobre as coisas aqui fora e sobre a situação financeira e eles nunca me falavam diretamente, visando não tirar o meu foco da recuperação, eles sempre diziam que estava tudo bem, que estavam resolvendo tudo, até que um dia antes da minha primeira saída terapêutica, foi feita uma acareação entre mim e minha esposa, na presença da psicóloga e do terapeuta... Na ocasião, ela disse tudo aquilo que estava guardado e que ela nunca teve coragem ou mesmo oportunidade de conversar, porque mesmo estando errado, eu sempre tinha razão... Mas foi ali, ao ouvi-la dizer que sabia de tudo o que eu havia feito e expor algumas situações, que eu acordei e percebi que os problemas que eu havia criado, continuavam existindo e pior que isso, quem deveria resolvê-los era eu. Conversamos por algumas horas, não sei ao certo quanto tempo, só sei que para mim, parecia uma eternidade. Foi uma conversa tensa, mas foi necessária, pois, naquele momento eu pude pedir perdão por todas as insanidades que eu havia cometido e também prometi a ela que adotaria uma postura diferente e, em contrapartida pude ouvir e receber o perdão dela.
Já na segunda saída, foi a vez de passar pela mesma situação, só que dessa vez, com meus pais. Foi uma conversa muito dura, ouvi coisas muito fortes que nunca havia ouvido em toda minha vida, afinal, foram muitas decepções e para um pai ou uma mãe é sempre difícil imaginar que seu filho, criado com todo amor e carinho possíveis, um menino que foi muito bem educado, bem criado, de repente se transformou em uma criatura suja, desonesta, indigna de confiança. Realmente não é fácil saber que seu filho fez vários empréstimos em sua conta e que tudo o que ele lhes falava era mentira. Pois é, foi mais ou menos assim que aconteceu, todos nós choramos muito e mesmo com todos os pedidos de perdão, mesmo tendo sido perdoado, sei que as cicatrizes das feridas ficaram.
Não ficou só nisso, tiveram outras situações em que eu tive que me deparar com a realidade e com as consequências dos meus atos, mas o mais importante é que durante a internação eu pude adquirir ferramentas que me ajudaram e que ainda me ajudam a encarar os conflitos e com isso, me manter o mais próximo da linha do equilíbrio.
Mas o que vale ressaltar aqui é o fato de que na vida, para toda ação existe sempre uma reação de mesma intensidade e sentido contrário, ou seja, mais cedo ou mais tarde, todos temos que arcar com as consequências de nossos atos.
É isso, mais uma vez eu agradeço a todos e desejo uma ótima noite de sono e que amanhã possamos estar renovados para executar as tarefas diárias.
Fiquem com Deus e espero encontrá-los novamente amanhã.
Só por hoje eu entrego minha vida e minhas vontades aos cuidados do meu Poder Superior.
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